Logo - Contra a Corrente

Logo - Contra a Corrente

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Revista Contra a Corrente nº 4

Apresentação


Este dossiê do n.4 da revista Contra a Corrente ocupa-se do tema do balanço do PT em seus 30 anos de existência. Vários autores se debruçaram sobre questões ligadas às origens e trajetória do PT e o resultado encontra-se no primeiro bloco de artigos da revista que enfocam problemas como: PT das origens, PT como partido que nasceu deformado ou que foi degenerando em partido burguês no andar dos anos, PT como partido sem estratégia para o poder e, fundamentalmente, as pistas para o entendimento mais cientifico possível de um fenômeno da luta de classes – o PT – que marcou a face da história do Brasil e da América Latina (onde é incomum a existência de partido com essa origem, proletária). Esperamos que outros autores venham a contribuir, em futuros números da Contra a Corrente, para que este tema – de importância estratégica para a classe operária – continue sendo objeto de debate. Neste dossiê damos apenas o pontapé  inicial com a consciência  de que integramos um debate já em curso em outras publicações. 

O primeiro dos artigos deste dossiê traz o prof. Antonio Câmara que, em entrevista a nós concedida, expõe idéias importantes em termos de um balanço objetivo do PT-30 anos, mostrando que há muito que já não há qualquer diferença importante entre o PT e outros partidos burgueses, que o PT tornou-se importante trava ao desenvolvimento da consciência de classe das massas e quais as conseqüências e causas, na sua ótica, desse processo.

Claudia Cinatti, do Centro de Estudios, Investigaciones y Pesquisas, de Buenos Aires, tem um dos seus textos trazido aqui em forma de excerto (Uma polemica sobre as frentes “antineoliberais” e os “partidos amplos” – Quê partido para qual estratégia? - http://www.slideshare.net/revistacac/ag-claudia-cinnati-ca-c4 ), no qual aborda o problema dos partidos “amplos” ou sem definição de classe, partidos que têm surgido pela esquerda em meio à degeneração de processos como o do PT no caso brasileiro; a importância da sua análise se prende ao fato de incorporar argumentos teóricos ao debate sobre problemas de origem do PT e problemas de origem de partidos como o atual PSOL.  

Osvaldo Coggiola (Sobre as origens do PT: uma anti-história) em seu texto argumenta que o PT não foi, desde suas origens, uma proposta de partido operário independente e que sua direção sempre se posicionou sensível à pressão da burguesia (o regime militar, por exemplo, pressionou para excluir os sindicatos do interior do PT); este autor nos mostra como Lula adaptou as greves do ABC à estratégia de conciliação de classe do MDB e que, desde 1989, Lula se lança mais abertamente à colaboração de classe com a burguesia.

O artigo seguinte do dossiê PT-30 anos (Três teses sobre o PT das origens, de G.Dantas - http://www.slideshare.net/revistacac/agg-gilson-ca-c4  ) procura caracterizar a miséria da estratégia que sempre esteve presente na direção do PT e também nas tendências de esquerda que dele participaram, mesmo quando se colocavam mais combativas e com elementos classistas; o artigo oferece ao debate três teses sobre o PT das origens. Este artigo se coloca na perspectiva de avaliar o PT das origens trazendo argumentos para  a tarefa atual de construção de um partido operário de massas e revolucionário. 


O artigo seguinte, de Valério Arcary, Anotações para um estudo histórico sobre o PT, traça um importante e bem argumentado paralelo histórico entre a social-democratização do PT e problemas semelhantes ocorridos no início do século XX, em especial do debate-Bernstein; e mostra a crise de degradação do PT como crise de uma estrategização da tática eleitoral e a crise de certa esquerda como a crise do “método alemão”, ou seja, a crise de uma tendência recorrente de adaptação à rotina sindical-parlamentar.


David Maciel, da UFG, faz um estudo importante sobre As raízes ideológicas do PT, mostrando, ponto a ponto, as bases sociais e históricas e a trajetória ideológica daquele partido. Sobre o tema PT, longe de esgotar o debate, e considerando a importância teórica, política e prática para a classe trabalhadora desta questão, Contra a Corrente mantém aberto o debate.

Na esfera dos artigos sobre outros temas, destacamos o texto da professora Teresa Pinho, da UFS, sobre o problema da ideologia na suposta morte do marxismo ( http://www.slideshare.net/revistacac/ag-maria-teresa-ca-c4 ), rico em argumentos sobre uma época de miséria material e espiritual, de decadência ideológica da burguesia onde aparece, frequentemente decretada, a falsa morte do marxismo.

Outro tema contemporâneo, desta vez na esfera da crise econômica do capitalismo, é A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa ( http://www.slideshare.net/revistacac/ag-lucas-e-alexandrina-ca-c4 ), de Lucas Lima e Alexandrina Luz, com foco no impacto da crise mundial, cujo epicentro, neste momento, encontra-se na Europa.

Dilemas da revolução bolivariana, de Fábio Luis dos Santos, desenvolve uma referenciada crítica ao governo Chávez, mostrando a construção de um regime de perfil claramente eleitoral, plebiscitário e que marcha para a crise na mesma medida da impossibilidade de mudanças revolucionárias dentro da ordem e do esgotamento do próprio chavismo nos moldes bonapartistas em que veio sendo formatado.

Gramsci e sua chegada e receptividade na América Latina é o tema de Cássio Augusto, com seu Gramsci na América Latina: itinerário de uma recepção.


O artigo de Juary Chagas, O leninismo e a aliança de classe nas eleições: uma polêmica teórica com o MES/PSOL, aporta para o debate político-eleitoral no país através do diálogo com uma corrente interna do PSOL; o autor critica o MES por não se somar à frente de esquerda PSOL/PSTU e o faz com importantes argumentos de Lenine; sente-se falta, no entanto, de argumentos fundamentais do próprio Lenine e de Trotski, contrários a esse tipo de aliança com partidos policlassistas e estritamente eleitoreiros como o PSOL, um partido que se desprende do PT mas que reproduz sua “cultura” política de busca de alianças com partidos da burguesia (PV etc) e defensor ativo de medidas burguesas como o Supersimples, que atacam direitos da classe trabalhadora. Para o PSTU, partido importante e com fortes elementos classistas, cabe o argumento do autor, no sentido de se levantar uma frente de esquerda, de fato, com Zé Maria presidente, mas aliando-se ao PCB e outras correntes classistas em defesa de uma estratégia integralmente de classe. Uma estratégia que utilizasse as atuais eleições para denunciar o próprio parlamento, a própria falta de perspectiva parlamentar/eleitoral e, ao mesmo tempo, defendendo a auto-organização da classe trabalhadora em torno do seu programa, articulando medidas reformistas com medidas revolucionárias; e valorizando toda uma base combativa que milita no PSOL, claro, mas sem iludir-se com a direção e o rumo deste partido que já nasce velho e à sombra da burguesia democrática.

O artigo seguinte, Capitalismo, monopólio e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exploração dos bens intangíveis (http://www.slideshare.net/revistacac/aaa-8628319 ), do prof. Wellington Fontes Menezes, ajuda a clarear o debate atualíssimo sobre o problema das patentes, forma que o grande capital encontrou de monopolizar bens como a própria vida. 

Daniel Bensaid é objeto de dois textos, um em torno da sua trajetória política de vida (Obituário, de Gilson Dantas) - http://www.slideshare.net/revistacac/ag-daniel-bensaid-ca-c4 ) e o outro uma resenha do seu livro Os irredutíveis: teoremas para a resistência do tempo presente, escrita por Deni Irineu A. Rubbo, que recupera preciosas contribuições de Bensaid na luta contra o pós-modernismo e outros temas, um autor que sendo importante, na nossa ótica, padece, – na sua concepção estratégica -  de fraquezas insanáveis dentro da sua justa perspectiva de “atualizar o comunismo radical”. 

No setor de resenhas de livros, temos ainda Yuri Martins Fontes, com o livro Os cangaceiros, de L. Bernardo Pericás, o prof. José de Lima Soares, com o livro História das lutas dos trabalhadores no Brasil e Fábio M. Querido resenhando As utopias de Michael Lowy: reflexões sobre um marxista insubordinado, onde destaca a importância e a relevância do pensamento de Lowy para o debate marxista contemporâneo (os limites estratégicos de Lowy estão brevemente registrados em outro texto da Contra a Corrente, sobre Daniel Bensaid); Hélio Rodrigues nos traz a resenha do livro de H. Marshall Cidadania e classe social.  Por fim, três resenhas de filmes constam da revista, com o filme Terra e liberdade, de Ken Loach (crítica de Hélio Rodrigues), À procura de Eric (crítica de Silvia Adoue) e Lula o filho do Brasil - http://www.slideshare.net/revistacac/ag-michel-ca-c4 (crítica de Michel Silva).  

Temos também o artigo História e imagem: possibilidades de novas leituras, do prof. Derval Cardoso Gramacho. Já na área de literatura, o texto do prof. Francisco Teixeira, da UFC, O mundo reificado de Graciliano Ramos: uma leitura na perspectiva da economia política, contribui ao marxismo através de uma análise da obra de um dos mais férteis escritores da literatura brasileira.

Este número da Contra a Corrente está sendo lançado em meio à reta final para as eleições nacionais 2010, momento em que os grandes capitais entram em cena para garantir os candidatos, majoritários e proporcionais, que assegurem a continuidade dos negócios capitalistas e a preservação do que eles chamam “governabilidade”. “Vote melhor”, “renove” o parlamento, “valorize seu voto” diz a propaganda burguesa, ao mesmo tempo em que a democracia dos ricos se reproduz através de campanhas regadas a milhares e milhões de reais e as regras do jogo seguem intocadas (mandato não revogável a qualquer momento, político ganhando mais que professor, dados pessoais não divulgados com 100% de transparência etc). O grande debate fica ausente: o de como por fim a essa democracia dos ricos e levantar em seu lugar uma democracia dirigida pela classe trabalhadora e massas pobres, com outras regras – de democracia radical, pela base, por local de trabalho e moradia – e com as grandes alavancas da economia estatizadas e sob pleno e direto controle dos trabalhadores. Não há dados que demonstrem que a história inventou algo superior a essa perspectiva: quem cria a riqueza deve geri-la.
Este número da Contra a Corrente registra a importante data dos 70 anos do assassinato de Leon Trotski, em 1940, na cidade do México, a mando de Stalin. Continuador de Marx e Lenine, Trotski deve ser lembrado por suas importantes obras que decifram questões estratégias do nosso tempo (basta que se pense em A revolução traída e no Programa de Transição da IV Internacional) e trata-se de um autor que merece o mais amplo debate acadêmico e não-acadêmico; neste número de nossa revista, registramos excertos/citações de alguns dos seus textos como forma mínima de registrar aquela data. A Editora Centelha Cultural (em co-edição com a Editora Iskra) lançará em poucos dias o livro Bolchevismo e stalinismo, de Trotski, como parte desse processo, ao mesmo tempo em que a Editora Iskra se prepara para lançar A revolução espanhola, com textos do mesmo autor. Também registramos a importante iniciativa da revista Antítese no sentido de homenagear aos 190 anos do nascimento de Engels, autor inseparável de Marx e que nos legou importantes contribuições em variados campos do conhecimento, especialmente no debate sobre a natureza do marxismo. 

O próximo número da revista Contra a Corrente será dedicado ao tema do meio ambiente: ecologia e marxismo; desde já se encontra aberto a artigos e resenhas que tratem do tema sendo que o prazo final para envio dos artigos está provisoriamente fixado em 31 de janeiro de 2011.  Por último, o grupo de estudos marxistas Armas da crítica, que funciona na UnB, convida a todos aqui de Brasília para participarem de debates em torno do marxismo clássico/contemporâneo e também, ainda neste semestre, de estudos sobre o tema marxismo e ecologia, darwinismo e marxismo e revoluções sociais do século XX.

Gilson Dantas
Brasília, 10/9/2010

Um comentário: